texto #13

Estava com meu namorado na fila de uma casa noturna e existiam duas filas: uma masculina e outra feminina - que os seguranças só alertam as mulheres quando se aproximavam da entrada, já que a fila masculina era enorme e a escondia. Quis permanecer na fila gigantesca ao lado do meu namorado, e uma mulher atrás de mim também ficou ao lado de seu companheiro. Até que num desses chamados do segurança avisando sobre a fila feminina, o segurança nos chama, e aí numa brincadeira o companheiro desta mulher diz: "essa aqui não é mulher, é travesti". Assim que ele disse, eu apavoradamente o olhei e disse que era um comentário absurdo. Fiquei indignada com aquelo: sua brincadeira queria dizer que sua companheira não mereceria estar na fila feminina se fosse trans*, então, mulheres trans* são menos mulheres que as mulheres cis* e deveriam permanecer na fila masculina. Se houvesse uma mulher trans* que quisesse entrar naquele lugar, ela deveria então estar na fila masculina? Só um órgão sexual tem o poder de definir gênero? Até quando essas brincadeiras vão ser simplesmente tomadas como despretensiosas e não como crime se estão repletas de preconceitos?

Se eu, como mulher cis* não defender também a mulher trans* até que não seja necessário existir esta distinção entre nós duas, vou automaticamente aceitar discursos sociais repletos de preconceitos como inofensivos.

Se eu, como um individuo na sociedade não intervir, como nesse caso em que o preconceito é uma brincadeira, deixarei que uma minoria tenha sua opressão deslegitimada.
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