texto #11

Caos e Coisa

Entrei perdida. Era um lugar imenso, cheio de tudo e também cheio de nada. Tive a impressão que se me descuidasse e ficasse alguns segundos a mais de olhos fechados, tudo me engoliria, e eu me tornaria mais alguma coisa ali.

O vento voa pelos cantos, derrubando coisas, quebrado coisas, ativando o barulho das coisas, arrepiando minha espinha. Tem muita coisa aqui. É difícil identificar as coisas, elas já são uma só coisa.

A maioria das coisas são densas, acho que sozinha não conseguiria carrega-las. Outras coisas, tão frágeis. Acho que eu não conseguiria tocá-las sem quebra-las. E existe o pó. O pó das coisas nas coisas.

As coisas estão jogadas, colocadas, amarradas, encaixadas, escorregando, desfazendo, crescendo, se multiplicando, diminuindo, sumindo, existindo e não existindo.

Tropecei numa coisa e a peguei. Pouco pude descobrir sobre ela antes que outra coisa me chamasse mais a atenção e eu a soltasse e ela sumisse. Mas sei que era algo que grudava um pouco e que não queria ser solta.

Essa outra coisa que me chamou a atenção estava em cima de várias outras coisas e havia uma luz nessas coisas. Foram as primeiras coisas que eu vi que tinham luz. Alguns tinham uma luz própria e outros só refletiam ou piscavam ou brilhavam ou eram invadidos por ela.

Esse objeto que eu escolhi, era transbordado por uma luz e ele a absorvia e a prendia dentro dele. Era lindo. O guardei na bolsa e continuei meu percurso por esse labirinto de coisas.

Estou a procura de alguma coisa ainda e não sei se vou encontra-la aqui. É tanta coisa que até tenho medo de perguntar como chegaram ali, de quem e quando vieram. Tem historias-coisas que não podemos interferir.

Saí do caos e agora posso descobrir mais sobre o meu objeto, sobre essa luz que ele carrega em si. Ele é uma coisa que absorve toda a luz a sua volta, ele é liso e frio. E ele sumiu das minhas mãos.
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