Hoje é um dia que eu só queria morrer por um tempinho, pra
renascer em outra vida, outra realidade.
As vezes as coisas ficam tão ruins e nessas horas tem uma solidão que vem começando pela ponta da unha do dedão do pé até subir por todo
o corpo e se mistura nos meus cabelos enquanto me leva pra um lugar vazio e sem
cor.
Esse é um vazio que ecoa as palavras, gestos, todas as
tristezas e feridas. Ele é de uma
natureza repetitiva, cruel e ele se afunda e me afunda junto, não como um
efeito funil mas como se fosse um elevador-do-desespero. E esse elevador é
feito de um material torturante, do mesmo universo de pontas de agulhas que nos
furam sem dó e de vidros quebrados no chão que pisamos. Ele se prende a carne e
lentamente ela se transforma na mesma matéria que ele é, até que você começa a se atormentar sem o incentivo dele pois o elevador não te
fere mais: só você se fere agora. E é uma ferida pior que a do elevador, é uma
dor pior que navalhas cortando a pele e posso te garantir que navalhas me cortando
a pele seriam demasiadamente menos dolorosas. Seriam aliviantes, e nos momentos
de extrema dor, necessárias.
Eu já sou da mesma matéria do elevador, sou puro desespero e nem me lembro desde quando.