texto #07

Hoje é um dia que eu só queria morrer por um tempinho, pra renascer em outra vida, outra realidade.

As vezes as coisas ficam tão ruins e nessas horas tem uma solidão que vem começando pela ponta da unha do dedão do pé até subir por todo o corpo e se mistura nos meus cabelos enquanto me leva pra um lugar vazio e sem cor.

Esse é um vazio que ecoa as palavras, gestos, todas as tristezas e feridas. Ele é de uma natureza repetitiva, cruel e ele se afunda e me afunda junto, não como um efeito funil mas como se fosse um elevador-do-desespero. E esse elevador é feito de um material torturante, do mesmo universo de pontas de agulhas que nos furam sem dó e de vidros quebrados no chão que pisamos. Ele se prende a carne e lentamente ela se transforma na mesma matéria que ele é, até que você começa a se atormentar sem o incentivo dele pois o elevador não te fere mais: só você se fere agora. E é uma ferida pior que a do elevador, é uma dor pior que navalhas cortando a pele e posso te garantir que navalhas me cortando a pele seriam demasiadamente menos dolorosas. Seriam aliviantes, e nos momentos de extrema dor, necessárias.

Eu já sou da mesma matéria do elevador, sou puro desespero e nem me lembro desde quando.
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